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Definição de Cultura Material
A Cultura Material traz a primeiro plano a própria vida material dos homens que vivem em
sociedade, incluindo os objetos e materiais que constituem a base desta cultura
material gerida e organizada socialmente. Esses elementos foram sendo criados
ao longo do tempo e, portanto, representam a história de determinado povo.
Contudo, é importante ressaltar que
este campo deve examinar não o objeto material tomado em si mesmo, mas sim os
seus usos, as suas apropriações sociais, as técnicas envolvidas na sua
manipulação, a sua importância econômica e a sua necessidade social e cultural.
Afinal, a noção de “cultura” também não deixa de atravessar este campo. Assim
que o historiador da cultura material não se mostra atento apenas aos tecidos e
objetos da indumentária, mas também aos modos de vestir, às oscilações da moda,
às suas variações conforme os grupos sociais, às demarcações políticas que por
vezes se colam a uma determinada roupa que os indivíduos de certas minorias
podem ser obrigados a utilizar em sociedades que aproximam os critérios da
“diferença” e da “desigualdade”.
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A importância da cultura material para os estudos
históricos
A partir desta definição, as
relações da cultura material com outras modalidades historiográficas se
frutificam, uma vez que podemos entendê-la como o campo histórico que estuda
fundamentalmente os objetos materiais em sua interação com os aspectos mais
concretos da vida humana, desdobrando-se por domínios históricos que vão do
estudo dos utensílios ao estudo da alimentação, do vestuário, da moradia e das
condições materiais do trabalho humano. A noção fundamental que atravessa este
campo, bem entendido, é a da “matéria” (ou do ‘objeto material’, que pode ser
tanto o de tipo durável, como no caso dos monumentos e dos utensílios, como do
tipo perecível, como no caso dos alimentos).
Ao perceber, por exemplo, a
materialidade de uma cidade – os seus monumentos, os seus espaços de
circulação, os seus espaços de trancafiamento, os seus compartimentos lícitos e
ilícitos – o historiador estará buscando perceber os modos de vida da sociedade
que a habita, as expectativas dos seus habitantes.
Como se vê, o estudo da cultura
material em sua relação com o comportamento humano é de grande valia para o
historiador, visto que ela se ocupa também do ambiente em que o gênero humano
se desenvolveu e no qual o homem ainda vive. O historiador da cultura material
estará freqüentemente estudando os domínios da vida cotidiana, da vida privada,
embora estes domínios também possam ser partilhados por historiadores voltados
predominantemente para outras dimensões
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Tipos de cultura material
Alguns exemplos de elementos
concretos da cultura material são: museus, obras de artes, utensílios, igrejas,
praças, universidades, móveis, objetos decorativos, ferramentas, máquinas,
matérias primas que darão luz a objetos manufaturados, veículos que os
transportarão ao longo de grandes avenidas e estradas, com destino a
determinados grupos de consumidores.
Tudo pode ser objeto de uma História
da Cultura Material, ou seja, o conjunto
de objetos - tecidos, utensílios, ferramentas, adornos, meios de transporte,
moradias, armas etc. - que formam o ambiente concreto de determinada sociedade.
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